Pensar o mundo na contramão dos modos de pensamento congelados pelos diversos tipos de poder que o homem inventa ao longo da sua caminhada. Eis a proposta de Edgar Morro em O Método. Este quarto volume, As idéias, é um dos mais cristalinos e implacáveis requisitórios contra os males da intolerância intelectual: dogmatismo, racionalismo, maniqueísmo, esnobismo, ideologismo, etc. O autor mostra que a aventura do conhecimento enriquece-se na simplicidade (inimiga do simplismo) e na busca perpétua da complexidade, adversária declarada das doutrinas e das verdades que se recusam a comparecer diante do tribunal permanente da evolução.Pensador do complexo, militante da solidariedade, curioso por natureza, interdisciplinar por clarividência, Morin ousa enfrentar todos os cartéis intelectuais, encastelados em suas vaidades e metodologias seguras, para inocular o vírus da dúvida onde a certeza ameaça matar as novas e preciosas descobertas. Sem qualquer concessão ao relativismo ingênuo ou ao imobilismo de qualquer ordem, Edgar Morin propõe-se a tudo relativizar em nome do jogo poderoso e fundamental das idéias em movimento. Se Paul Feyerabend levantou-se contra o método, Morin emprega a sua inteligência para inventar métodos, abertos, permeáveis, tolerantes, frutos da mistura, do cruzamento, da mestiçagem, do horror aos cultos herméticos de idéias sacralizadas e de salvadores ideológicos incontestáveis. Morro e Feyerabend andam na mesma direção: a procura de uma metodologia libertária. Falar em método, neste caso, nada tem a ver com fórmulas, receitas, camisas-de-força, sistemas acabados a serem aplicados para que o futuro radioso surja do nada. O método é um caminho que se faz caminhando, conforme a apropriação livre da poesia de Antônio Machado, artista genial que apaixona Morin. Capaz de compreender os mitos, de apostarem todos os sonhos e de abrirse ao religioso, Edgar Morin sabe também enfrentar a escravização pelos mitos, a prisão nos sonhos, a cegueira das religiões. E das doutrinas e ideologias, revestidas com a carapaça religiosa. Na era das celebridades, o autor de O Método desconstrói os ídolos, satiriza as modas, combate as afetações, fustiga as guerras de seitas teóricas/ideológicas/doutrinárias e estimula, sempre, incansavelmente, a reflexão livre, corajosa, desviante, mesmo que isso leve ao ostracismo. O Método é uma das obras, na encruzilhada da filosofia, da epistemologia, da sociologia e da antropologia, mais importantes do século XX.