Na histeria, Freud descobriu os fundamentos da psicanálise sobre o sintoma, a transferência e a associação livre, mas encontrou sobretudo o entrecruzamento do saber inconsciente e da pólis. É isso que faz com que hoje, banida do discurso oficial quer da psiquiatria (substituída pelo transtornos somatoformes), quer da psicanálise (‘não se fazem mais histéricas como antigamente’), a histeria continue a representar a subversão desejante, a política do apelo ao novo. Lacan designa esta função incomparável do discurso da histeria: fazer objeção ao discurso do capitalismo que anula o laço social. Ao fazer apelo à exceção, a “ao menos um” homem que soubesse sobre o desejo, a histérica restaura no laço social as coisas do amor, temperando com libido o discurso da civilização dominado pela crueldade e pela pulsão de morte. Se as manifestações atuais do sintoma histérico mudaram, as questões sobre a feminilidade e o gozo, sustentadas pelo discurso da histeria, permanecem mais que nunca atuais.