Uma caminhada inter e transcultural: tal é este livro, resultado da maturação e da convergência de atividades de pesquisa e ensino com reflexões filosóficas e experiências pessoais, tanto políticas como espirituais, através do candomblé, do Santo Daime e de lutas de libertação anti(neo)coloniais. Uma orientação ética, baseada no valor imprescindível da emoção, da fragilidade, do dever de nunca julgar, da busca budista da não separação entre o objeto e o sujeito da pesquisa (como, também, entre o objeto e o sujeito do ensino e do pensamento), da não separação entre os seres vivos em geral, percorre os capítulos. Nenhuma dureza, e sim muita aceitação. Do outro, de si. Muita paciência e muita exigência. Pelo menos, tentei. Pois é. A experiência do viver, Il mestiere de vivere ("A Profissão de viver"), como escreve o poeta italiano Cesare Pavese, nos ensina que há de mergulhar no sem-forma e sem-fundo para dar forma a nossa humanidade, concebida como criação contínua gerada por múltiplos devires. Tive de tentar entender como pensam, sonham e vivem povos indígenas, compartilhar com eles suas lutas, para me entender melhor e, sobretudo, iniciar uma reflexão epistemológica intercultural (e depois, transcultural), onde cada um atua como olhar crítico sobre o outro e, no mesmo gesto, se transforma. Uma exigência: reconhecer os saberes do outro, sua ciência e com ela, os caminhos que este outro está percorrendo para obter os resultados considerados legítimos na sua cultura. Daí, o reconhecimento mútuo, o devaneio mútuo, que implicam direitos iguais entre os saberes e seus caminhos, heterogêneos - entre as diversas legitimidades científicas que as diferentes civilizações elaboraram. O último capítulo avalia, 15 anos depois, a pesquisa a partir da qual foi criada a SOCIOPOÉTICA e dá exemplos precisos de como se faz um estudo sociopoético - conforme foi solicitado por vários grupos de pesquisa. Chegou a hora, juntos, de ENTRAR COM PRAZER NO SABER!