Seja pela escolha gramatical do tu, em detrimento do você, este último mais informal, ou pela escolha do léxico e discurso grandiloquentes, igualmente inusuais, a linguagem deste livro toma ares anacrônicos, mas já advirto que tal característica á apenas aparente. Justifica-se pela trama, mas não só isso: trama e linguagem neste livro coexistem de maneira tão harmoniosa que uma depende substancialmente da outra. Inspirada na tradição cristã, mais propriamente na Bíblia, essa linguagem é levada ao extremo, a momentos de pura convulsão. E, em se tratando de um universo religioso, poderíamos fazer um paralelo do romance com a Santíssima Trindade, sendo aqui a linguagem: o Pai; as imagens: o Filho; a violência: o Espírito Santo. Creio ser essa a tríade que sustenta a trama. Sendo a violência, além disso, o sopro que a anima. Violência essa cruel e brutal, mas também lírica. E há ainda, de forma quase onipresente, a hipérbole, figura de linguagem que se justifica tanto pela questão (...)