Este livro não se propõe a ser um projeto de elucidação do pensamento clínico de Bion, pois tal tarefa já seria, de início, não coerente com suas idéias. Bion, como muitas vezes sugerem seus textos, é um autor que necessariamente não busca ser entendido. Pelo contrário, ocupa-se significativamente em ressaltar a difícil e angustiante experiência de não ser entendido e, de sua contrapartida, a de não entender - ambas sempre presentes e fonte de turbulência no processo analítico. Sua relação com a psicanálise é da ordem de algo que, como a arte, não pode ser ensinada, mas pode ser aprendida. Expressivamente estético, Bion é sinônimo de aprender da experiência. Nada a ver com método didático, mas com a ética e a criação. Trata-se da experiência emocional inerente a investigação da mente inconsciente: uma experiência que no contexto deste livro centraliza-se nos desenvolvimentos feitos por W. R. Bion sobre o discurso mítico na psicanálise, sobretudo o mito de Édipo. Para acompanhá-lo desenvolvemos o instrumento de observação que nomeamos de princípios ético-estéticos, assim atendendo às duas vertentes da prática.