Escrever é um acalanto, uma ferramenta para se fazer ouvir e escancarar dores. A crônica tem seu espaço no tempo e seu valor histórico-social; transborda empatia do cronista à medida que este protagoniza histórias que estão muito além das páginas de um livro, muito além do portão. Cronista é um ser em movimento. Seu lugar é onde ele queira estar. Ali ele estaciona tão somente para tirar proveito dos instantes que mais interessam a seu desejo de contar. Realizado, ele muda para outro, sem remorso. O cronista é um mambembe, um corisco, nas palavras de Chico Buarque; metaforicamente um aproveitador, nada o prende ou o aprisiona; o portão se abre magicamente ao apelo do cronista para lhe conceder passagem. Rosane é tudo isso, em potencial e no bom sentido: xereteia nos espaços mais diversos e inusitados: em casa, no ônibus, na escola, na Letônia, nos bares em rodas de choro, nos estádios onde o público xinga a presidenta e no cemitério onde lava e escova o túmulo da família. (...)