Em Autópsia do Bípede, Marco Polo Guimarães busca incessante e obstinadamente mergulhar nas histórias e personagens para submeter seus traços de cotidiano ao momento invulgar de desestabilização da realidade, como ele mesmo descreve. Escrito sob o influxo da pulsão cega que gera a própria vida, este livro, dissecando-a de sua unidade para revelar seu caráter fragmentário e múltiplo, consegue a cada instante revivê-la e ampliar seu corpo de experiências em recorrência contínua a temas e personagens que, atravessando cenas, enredos e perspectivas, refletem a colagem esquizo da existência humana. À primeira parte do livro, marcada por um tom mais poético e ingênuo e centrada em um mesmo protagonista, Adriano, seu alter-ego, seguem histórias mais duras e irônicas, que vão desde roteiros de curta-metragens a cenas narrativas singulares e microcontos, o que concilia no vigor da prosa seu itinerário como poeta e o antigo sonho de ser cineasta.