Comei a carne dos fortes e bebei o sangue dos grandes.Ao ver, nas primeiras páginas desse romance, esta citação do profeta Ezequiel, entre outras, o leitor desavisado poderá pensar que se trata de um livro religioso. Mas não se deve acreditar na devoção de Pierre Combescot, mesmo quando ele dedica seu livro à Santa Igreja apostólica e romana. Em Os funerais de Sardinha, padres, cardeais e papas, assim como a própria Igreja, passam por uma devassa de suas intimidades mais pérfidas e mundanas. Não se trata, no entanto, de um livro-denúncia sobre a hipocrisia da vida religiosa. Embora pareça ter verdadeira fixação no tema, Combescot dirige sua metralhadora giratória em várias direções, e não poupa ninguém. Religiosos, nobres, intelectuais, artistas, policiais e gente comum giram no texto frenético do autor, que mistura, sem constrangimentos, história com suspense e crônica de costumes.