Um jardim é um lugar. E um lugar é o onde-quando em que o tempo e o espaço se cruzam para fazer-se hábito. Mas o hábito o fazer-se significado até do absurdo não é algo que permaneça, que se essencialize ou que se transcenda. O hábito, num lugar, é o que persiste na transformação. O jardim de Rosário Alves Cardoso é um lugar em que o hábito se faz no entre: num espaço e num tempo amplos e demorados, onde as coisas fervilham, levitando, entre uma e outra coisa. Por isso pairas,/Bem longe do que és/E não és balão sequer. O entre, esta distância entre as coisas contrárias, é uma casa. E habitá-la não parece fácil. Entrem. Fiquem. Bem-vindos ao jardim, somos assim convidados, talvez por alguém que amanheceu estátua e cuja existência é apenas sinalizada por pontas de cigarros intermitentes. Entrar, poderíamos dizer, é estar no entre. Este não é um convite fácil. Mas entramos. E encontramos então poemas murchando, um pouco por todo o lado. O que será isto de poemas que murcham? (...)