O ano de 1980 foi marcante na biografia de Mario Quintana: o poeta publicou Esconderijos do tempo e recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra literária. O livro reúne os textos que escreveu com mais de 70 anos. É, portanto, uma obra de maturidade, mas, ao mesmo tempo, uma clara demonstração da juventude, do frescor que Quintana conseguiu preservar em seus livros ao longo de toda a sua trajetória.A presente reedição de Esconderijos do tempo, pela Editora Globo, na Coleção Mario Quintana, projeto coordenado pela professora Tania Franco Carvalhal, que prevê a publicação de dezoito títulos do autor, no rol das comemorações do centenário de seu nascimento, a ocorrer em 2006, vem precedida do estudo Anotações do esconderijo, de José Eduardo Degrazia, que analisa o livro de Quintana a partir de uma chave de leitura para o conjunto da obra, detectando em seu desenvolvimento, e nesse livro em particular, a ampliação e complexificação do repertório do poeta.O livro é constituído de 50 poemas geralmente breves e de versos livres ou em prosa, havendo apenas um soneto. Quintana praticamente se utiliza de todos os metros, das redondilhas menores e maiores aos versos longuíssimos. Explora, inclusive, e com excelente efeito, seqüências de versos de uma única sílaba. Há canções e danças, aparentando o poema à música, além da forte coloquialidade em muitos poemas, chegando-se mesmo à utilização de formas tipicamente orais da fala. Diferindo um pouco de seus livros anteriores, não são muitas as pequenas cenas do cotidiano e da natureza que tanto o singularizam.