Gostaria de convidar o leitor ou leitora deste libro que tente fazê-lo como um exercício de meditação. Aceito o convite, estou certo de que cada qual experimentará um processo de transformação interior e social que lhe introduzirá em uma nova forma de convivência. No sentido mais original da palavra, trata-se de conviver compartilhando as tradições de fé e de esperança que mantêm a vida como dom comunitário, como bem comum fundamental que devemos cuidar em cada qual de nós e na natureza. É que na América Latina não temos ainda uma convivência no sentido pleno se não compartilhamos a vida desde suas fontes espirituais, como são as religiões indígenas ou afro-americanas, ou as experiências das mulheres. Porém tampouco há convivência se não abrimos nossa mentalidade e nossas práticas cotidianas à vida do outro como vida que nos sustenta. Conviver é confessar que nenhuma pessoa e nenhum grupo mantêm a vida, mas, ao contrário, é a relação com o outro, justamente a primordial "convivência", que nos sustenta em nossa vida pessoal ou comunitária. Conviver significa aprender a compartilhar a diversidade epistemológica que se mostra nas muitas práticas de vida dos povos latino-americanos e caribenhos. Nas entrelinhas deste livro há uma mensagem fundamental: conviver é confissão e prática de uma forma de vida que, superando o horizonte do mero respeito ou tolerância para com o outro, se abre como uma casa de mútua acolhida e socorro, não somente naquilo que se costuma chamar de "as condições materiais da vida", mas também nas heranças espirituais que nos manifestam sua insondável riqueza intercultural e religiosa. No fundo, a boa convivência é a vivência da paz.