Erótico e cáustico, a beleza de Ninharias se dá como abertura de percursos íntimos que pertencem unicamente ao leitor. São clarões e abismos que irrompem da quietude do que sempre se mantém em recolhimento. Sentidos que se expõem e limites que se deixam cruzar e penetrar nos empenhos e paixões dos que nesses insistem. São notações do transitório e das marcas que cada experiência faz nos corpos e nas expectativas que nos conduzem. No livro, a palavra, cada palavra é cuidada e sopesada no anseio de seguir-lhes os rastros mais apagados ou perdidos. Sua escuta é a matéria estruturadora dos poemas. Tanto que, não raro, versos se constituem de não mais que uma única palavra. Assim, o espaço da folha obedece às distâncias e atrações impostas por essas enunciações que estão sempre a estender e compor campos e, do mesmo modo, o ritmo surge do movimento desses liames. Se há métrica, se há canção, se há proporção, portanto, essas surgem dos saltos, viragens e deslizamentos impostos a quem as segue.