The sea and the Jungle (O Mar e a Selva) é um feito. E Hélio Rodrigues da Rocha é um forte. Ter trazido ao deleite dos leitores brasileiros este estudo sobre um clássico da moderna literatura de viagem que é O mar e a selva, de Henry Major Tomlinson (1873-1958), exatos cem anos depois de sua primeira edição em Londres (1912), é um fato editorial que merece ser saudado por todos aqueles que, para além das modas passageiras e manias comerciais, amam de verdade boas narrativas que nos desvendem histórias de valor. O autor foi um importante escritor inglês, cuja vida aventurosa soube expressar em prosa de cerca de 40 livros: marinheiro, jornalista, combatente na Primeira Guerra Mundial e logo pacifista radical, biógrafo, romancista e contista. De tudo que escreveu, contudo, destaca-se, além do romance Gallions reach (1927), este O mar e a selva, que trouxe o então jovem marujo até Belém do Pará e, depois, Amazônia adentro, até os confins de Santo Antônio do Madeira e dos trilhos em construção da hoje também centenária ferrovia Madeira-Mamoré. O que o viajante-escritor conseguiu, nestas páginas, foi restituir o clima fantasmagórico da selva e da ilusão civilizatória dos homens que nela se perdiam. Inspirou-me muito sua leitura, trinta anos faz, quando andava às voltas com meu ensaio Trem-fantasma. A generosa tradução de Hélio Rocha, ademais trabalhada com pesquisa de fontes muito cuidadosa, proporciona-nos, agora, a possibilidade de fazer e refazer os percursos de Tomlinson. Magia da viagem, magia da escrita. Quem viver lerá. Quem ler viverá.