A infância colorida que preenche o nosso imaginário, não chega a ser fantasia para as muitas crianças e adolescentes, que vivem no lado da vida pintado a tons de cinzento e preto. Nesta infância não há colo, não há sonhos, não se brinca... não se tem opinião, nem voz, nem desejos ou necessidades. Aqui há ralhos, corpos usados, humilhações, terror, abandono... muitas vezes sem que a vítima saiba mesmo o que é. Nesta infância não há sujeitos, há crianças-objecto das frustações, das exigências, dos sonhos dos adultos. A autora deambula por um percurso de procura teórica e empírica, e vai encontrando um emaranhado de factores culturais, sociais, económicos e pessoais que se cruzam, favorecendo as situações de maltrato infantil. Foi um trilho essencialmente desmistificador: a criança maltratada pode ser qualquer uma com quem se cruze... o adulto maltratante pode ser o(a) senhor(a) simpático(a), prestável, insuspeito, que se conhece.