Estas duas comédias de costumes têm em comum a data em que foram apresentadas em Milão (1919) e o erotismo. De forma velada e estilizada na primeira, e de forma direta (e hilariante) na segunda, como o leitor poderá avaliar, esse traço acaba contagiando a ambiência da peça inteira, prova da grande maestria do dramaturgo. Em O Homem, a Besta e a Virtude, Pirandello ataca uma série de hábitos e preconceitos da Itália "burguesa" de sua época, em particular os das relações sociais entre os sexos, utilizando uma linguagem de farsa. O mesmo se dá em O Enxerto, mas aqui o tom erótico é outro e o registro das falas mais contido. Trata-se da subordinação de uma mulher a seu marido, mantendo, entretanto, certos direitos e apresentando crescimento interior. Com sua lógica de paradoxos, Pirandello despede-se nestas comédias dos ecos ainda românticos do vaudeville e passa do realismo "verista" àquilo que chama de "humorismo", numa trajetória que contribuirá, em muito, para a renovação do teatro moderno.