Clarice Lispector procura decifrar o drama existencial do homem moderno através de um raciocínio antitético: ela constrói na hostilidade dos homens a dimensão de um ideal de convivência humana possível; na inautenticidade, a essencialidade; no erro contínuo, a utilidade do desempenho cognitivo; no medo, a dialética da coragem; no ócio, o valor terapêutico da vida laboriosa; na incapacidade de amar, a grandeza do amor como energia que nos move em profundidade. Neste trabalho, Bernadete Grob resgata toda a modernidade da escritura clariceana: uma ficção consubstanciada pela racionalização da experiência existencial que implica a discursivização do saber. Assim, contesta a crítica tradicional e propõe uma nova concepção da obra de Clarice, mostrando como a escritora aborda os grandes temas da vida moderna e dirige as possibilidades do homem para o futuro. Segundo ela, A obra de Clarice não pretende dar uma lição de moral, mas uma lição de sabedoria. Seu ideal artístico-literário acompanha a índole moderna da literatura: reconstruir a subjetividade do homem comum, sem qualquer compromisso ideológico. Sua especificidade é iluminar um sentido que traz todo o dinamismo da História: saber, errância, condicionamentos, ócio, sexualidade etc. O saber - concebido em termos hegelianos, como a energia que move o mundo - é um bem cultural que garante o discernimento do homem perante si e perante o mundo.