Seguindo a tradição de revelar jovens escritores, o volume 113 da Granta inglesa trouxe uma inovação: pela primeira vez, a antologia de contos da célebre publicação literária voltou-se para o vasto universo dos autores de língua espanhola, reunindo as diversas vozes que o idioma assume de acordo com o país ou região de quem escreve. Sua tradução é o volume 7 da Granta em português, que o selo Alfaguara publica no Brasil em junho de 2011. Criada em conjunto com os editores de Granta en español, a lista traz 22 escritores nascidos a partir de 1975 - ou seja, com até 35 anos na época em que a revista foi editada. Entre eles estão os argentinos Andrés Neuman, Pola Oloixarac e Samanta Schweblin, o peruano Santiago Roncagliolo e os espanhóis Elvira Navarro e Javier Montes. Nomes promissores, que procuram caminhos originais para a literatura neste início do século. Sai de cena, assim, a literatura consagrada como realismo fantástico no século 20, que projetou alguns autores latino-americanos no mercado internacional, mas que, por outro lado, restringiu ao gênero a temática literária da língua de Cervantes. O limite etário explica-se não só pelo intuito de apresentar um recorte contemporâneo da literatura em espanhol, como também pela simbologia do ano de 1975. A redemocratização da Espanha pós-Franco e o paralelo recrudescimento das ditaduras no continente americano modificaram o cenário cultural e político regional, trazendo a reboque novas reflexões para os escritores nascidos nesse período. O texto de introdução de Os melhores jovens escritores em espanhol avalia justamente a conjuntura social em que emerge a nova geração de escritores. "Também nessa época tem início uma reavaliação da superstição de que o escritor sul-americano emigra para Paris e de que todos querem publicar na Espanha, que havia consolidado novamente (...) a sua indústria editorial literária. Entre os escritores nascidos depois de 1975, a imbricação complexa, ambígua, entre a política (...) e a literatura é antes a exceção do que a regra. E os autores destas páginas estão distantes das circunstâncias sociais e morais que perturbaram as gerações anteriores." Diante da tradição representada por Borges, Cortázar, García Márquez, Vargas Llosa, Bolaño, o livro se propõe a apontar os novos rumos por meio da narrativa dos 22 escritores selecionados. Com ampla tradição literária, a Argentina reúne o maior número de representantes; ao todo oito nomes, seguida por Espanha, com seis autores, e Chile, com três nomes selecionados. Uruguai, México, Peru, Colômbia e Bolívia completam a antologia, cada qual com um escritor incluído. De acordo com John Freeman, editor da Granta inglesa, em entrevista ao New York Times, o espanhol é um dos grandes idiomas globais, com grande penetração mesmo nos Estados Unidos, onde é falado por milhões de pessoas. Para Freeman, os 22 escritores selecionados para a edição da revista dedicada ao idioma chamam a atenção pela diversidade do grupo e pelo fato de boa parte dos escritores não residir em seus países de origem, assim como seus antecessores. O jornal Independent chama atenção para a influência de Bolaño entre a nova geração e para a tendência a uma escrita mais pessoal em contraste com o viés político antes predominante, ainda que ocorram exceções. "O melhor desses contos é, para usar uma das palavras favoritas de Borges, ‘nítido', ou ‘visceralmente real' como Bolaño gostaria que a literatura latino-americana se tornasse", avalia o periódico inglês.