João da Cruz e Sousa, considerado pelo crítico francês Roger Bastide um dos três maiores poetas do simbolismo mundial, ao lado do francês Stéphane Mallarmé e do alemão Stefan George, nasceu em Desterro (atual Florianópolis), SC, em 1861. Recebeu excelente educação, dada pelo antigo senhor de seus pais, escravos alforriados. Na cidade natal, com Virgilio Várzea, publica o jornal abolicionista Tribuna Popular. Hostilizado pelos brancos, engaja-se numa companhia teatral como ponto, percorrendo o país. De volta a Desterro, publica com seus amigos de literatura e sonhos (Virgilio Várzea e Santos Lostada) um pequeno volume em homenagem à atriz Julieta dos Santos (1883), e dois anos depois, sempre com Virgilio Várzea, Tropos e Fantasias, de gosto parnasiano. Fixa-se no Rio de Janeiro, a partir de 1890, e começa a publicar na imprensa seus poemas de feição simbolista, gerando reações extremas, da admiração exaltada à hostilidade declarada, esta devido sobretudo à cor negra do poeta. No mesmo ano em que se casa (1893), publica Broquéis e Missal (poemas em prosa), a que se seguem Evocações (1898, prosa poética), e os volumes póstumos Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905). Poesia exótica pela sua aura metafísica, a ânsia de infinito, a atração pelo branco, a presença constante do diabo, a angústia permanente, a obra de Cruz e Sousa espelha com fidelidade a trajetória do poeta, a sua luta para superar a revolta e o sofrimento e atingir a pura espiritualidade. Como observou Tasso da Silveira, se Broquéis exprime a dor de ser negro, Faróis representa um passo mais além, expressando a dor de ser homem, enquanto nos Últimos Sonetos palpita a dor, mas também a alegria e a glória, "de ser espírito, de comungar com o eterno e heroicamente sobrevoar os abismos e as sombras da pobre terrenalidade". Cruz e Sousa faleceu em 1898.