Eu não sou Jackson Pollock, primeiro livro do ator e dramaturgo americano John Haskell, agradou imediatamente aos críticos, mas também lhes impôs uma dificuldade: classificar a obra. Os nove textos que compõem esse trabalho já foram chamados de ensaios ficcionais, contos históricos e ficção biográfica. Isso porque o autor cria a maioria de suas histórias a partir de pequenos detalhes verídicos das vidas de pessoas e animais que realmente existiram, como o pianista Glenn Gould, a atriz Capucine, o cineasta Orson Welles, a cadela cosmonauta Laika e, é claro, o artista plástico Jackson Pollock. Haskell propõe um mergulho nas angústias de seus personagens reais, tomando a liberdade de supor como seria o mundo particular que cada um deles criou em suas mentes. Para isso, o autor sobrepõe pessoas a filmes, mitos a obras de arte, conceitos filosóficos a especulações psicológicas. E o denominador comum a que essa complexa equação chega é, quase sempre, a infelicidade inerente a todos os seres vivos. O primeiro texto, Sonho de uma tela em branco, invade os pensamentos de um Jackson Pollock já consagrado, interessado em conquistar uma garota que ele conhece no bar. Ela sabe quem ele é, mas não está interessada no grande pintor, e sim no homem comum que há nele. Pollock, entretanto, já não sabe como é "ser ele mesmo". O artista, que passou a vida toda lutando contra o convencional, tornara-se convencional, de modo que o alvo de sua luta passara a ser ele próprio. Em Sentimentos de elefante, Haskell recupera as trajetórias de três personagens irmanados em sua busca mal sucedida pelo amor: Topsy, uma elefanta eletrocutada há mais de cem anos por ter matado um homem; Saartjie, a Vênus de Hotentote, uma africana levada da Cidade do Cabo para Londres em 1810 como mera curiosidade, por ser negra e por ter esteatopigia, uma espécie de hipertrofia das nádegas; e Ganesha, a divindade hindu, cuja cabeça de elefante em corpo de homem ganha uma nova explicação. Em O julgamento de Psicose, Haskell estabelece um paralelo entre o filme Psicose, de Alfred Hitchcock, a Guerra de Tróia e uma pintura de Vermeer. Já em As faces de Joana d’Arc, ele encontra semelhanças entre Mercedes McCambridge (atriz que fez a voz demoníaca da personagem principal de O exorcista), Renée Falconetti (atriz principal do filme mudo A paixão de Joana d’Arc), a Dalila interpretada por Hedy Lamarr no longa-metragem Sansão e Dalila e a modelo dinamarquesa Anna Karina, transformada em atriz por Jean-Luc Godard. Haskell ainda dá uma aula de cinema ao contar, com riqueza de detalhes técnicos, as histórias de três filmes de Orson Welles, em Crimes à meia-noite. E Estrada estreita é uma reveladora justaposição das vidas dos poetas Bashô, japonês que escrevia haikais no século XVII, e John Keats, o célebre inglês do século XIX.