Li, com interesse, curiosidade e deleite, Era uma vez, nos Açores, de Jandyr Côrte Real e Joares Carlos Ponticelli, atento à advertência, em forma de subtítulo, de que se trata de ?uma reportagem sobre a política nos tempos da emigração?. Encaminhando-me os originais, os autores surpreenderam-me com o honroso convite para escrever-lhes o prefácio. Sim, foi com interesse, curiosidade e deleite que li os originais. O interesse nasceu do tema. Afinal, nestas plagas que vão para além de Manezópolis, batidas pelo ?velho vento vagabundo?, nossa maneira de ser, nossas tradições, nossa cultura, nosso folclore ? popular e político ? nosso próprio temperamento, nossa índole, ?nosso dialeto?, nossa maneira de fazer política e tratar a res publica ? tudo denuncia o DNA de genuínos herdeiros da ?diáspora luso-açoriana?, de que, afinal, trata o livro. Sob esta ótica, poder-se-ia defini-lo como interesse genérico, calcado em tantas vertentes. Mas há também, digamos, o interesse específico, da parte de qualquer cidadão minimamente consciente, em perquirir, na esfera pública, a gênese de nossos costumes e instituições políticas, a partir das velhas construções de antanho, do povo dos Açores e Madeira. Pois! Já a curiosidade brotou desse toque de originalidade de opção metodológica. Desculpem. Soa pedante essa estória de ?opção metodológica?. O que quero dizer, sem delongas, é que o toque de curiosidade tem origem na própria epígrafe, no subtítulo, que expõe o claro propósito dos autores, de produzir uma reportagem sobre a política nos tempos da emigração. Porque, convenhamos, não bastava serem talentosos escritores, era preciso ser também um jornalista e um professor competentes e ousados, para escrever História ? com H maiúsculo ? como quem se defrontasse com um tema banal, pautado pelo editor ou pelo educador para preencher um espaço ocioso, e se dispusessem, assim mesmo, a partir dele, a produzir um trabalho jornalístico e educativo de fôlego, uma grande reportagem instrutiva. Mas o tema não é banal e a decisão não foi de um hipotético editor ou educador. Foi do jornalista-historiador Jandyr Côrte Real e do professor Joares Carlos Ponticelli.