Gabrielle Wittkop a "flor venenosa" ou "flor carnívora", como é freqüentemente apelidada, fez da literatura o veículo do seu veneno, assumindo-se nela enquanto "homem livre", ou melhor, não reconhecendo gênero ao pensamento e à respectiva expressão. A Traficante de Crianças, postumamente editado em 2003, é um romance epistolar, cuja ação remonta ao século XVIII, o século das Luzes e da libertinagem, no qual uma alcoviteira especializada no tráfico de rebentos ensina a uma protegida as subtilezas da sua arte. Na correspondência entre Marguerite e Louise, é todo um mundo que é subvertido na aparência e onde as engrenagens, ainda que manobradas por outras mãos, continuam a triturar incansavelmente os mesmos indivíduos.