Em dezembro de 1917, a exposição de uma pintora pouco conhecida, recém-chegada de temporadas de estudo na Alemanha (1910-14) e nos Estados Unidos (1915-16), provocou um escândalo na cidade de São Paulo, reuniu a sua volta jovens inquietos como Mário e Oswald de Andrade, e transformou-se no estopim do modernismo. A trajetória singular de Anita Malfatti (1889-1964) constitui um dos fatos mais intrigantes da arte brasileira no século XX. Desde os anos 60, quando a pintora lhe abriu as portas de sua casa e ateliê, Marta Rossetti Batista rastreou arquivos, bibliotecas e coleções, públicas e particulares, reunindo e cruzando informações, até mapear todas as etapas de sua vida. O resultado desta pesquisa, empreendida durante mais de quatro décadas por esta que é uma das principais historiadoras de nosso modernismo, são os dois volumes que ora se publicam. O primeiro, 'Biografia e estudo da obra', traz um completo estudo sobre a vida da artista, de forma a compreender as condições de produção e recepção de sua obra. Abordando desde sua infância, seus estudos em Berlim e Nova York na década de 1910, as exposições individuais de 1914 e 1917, a participação-chave na Semana de 22, a estadia em Paris nos anos 20 e toda sua trajetória posterior, o volume inclui mais de 300 imagens, várias delas inéditas, um caderno com reproduções em cores de suas principais obras e uma cronologia. O segundo volume, 'Catálogo da obra e documentação', relaciona mais de 1.300 obras - em sua maior parte reproduzidas na edição -, cada uma acompanhada por um verbete que traz não só os dados técnicos essenciais, mas também um comentário informativo e um histórico da obra, relacionando as coleções a que pertenceu, exposições de que participou e uma fortuna crítica que assinala os textos nos quais o trabalho foi citado, reproduzido ou analisado. O volume apresenta ainda uma bibliografia completa de e sobre Anita Malfatti, num período que se estende de 1914 a 2004.