Tormentos ocasionais conta uma história de amor incomum. Em tom quase místico e fortemente erotizado, uma criatura da qual pouco se sabe revive uma paixão que nasceu num passado distante e perdura indefinidamente, não como experiência concreta mas como memória, como lembrança. Ironicamente, no entanto, o leitor vai descobrindo que é tudo um jogo. Feita de citações perigosas, fragmentos roubados, verdades inverossímeis, mistérios postiços e falsas recordações, a história acaba tecendo uma espécie de casulo em torno do leitor, que jamais é verdadeiramente aprisionado: ele sabe que apenas se entregou a uma brincadeira sensual. Por trás do domínio e da concisão da linguagem, Bernadette Lyra pratica um senso de humor que resvala numa ponta intencionalmente ingênua de perversidade