Em Escritos da sobrevivência, João Camillo Penna mobiliza os instrumentos da literatura comparada e atravessa diferentes formas de testemunho, para analisar as representações da violência e sobrevivência e suas imbricações em manifestações culturais como o samba, o funk, o hip-hop, o cinema e a literatura. Aliando uma base teórica sólida à sensibilidade aguda do pesquisador, a obra analisa as múltiplas formas de mal-estar presentes nestes testemunhos, que revelam cicatrizes profundas na formação social brasileira. Autores como Agamben, Primo Levi e figuras como Marcinho VP são alguns dos objetos de exame, num livro que percorre diferentes caminhos do testemunho, desde o judaico ao hispano-americano até o testemunho do sujeito carcerário brasileiro. A mediação de fenômenos sociais e a construção da representação da pobreza e da violência no romance e filme Cidade de Deus e no documentário Falcão meninos do tráfico são outros temas de reflexão. A obra se detém sobre a complexa teia simbólica envolvida no discurso de Rigoberta Menchú, ativista política indígena guatemalca; percorre as teses de Hermano Vianna sobre o mundo do funk carioca e o mistério do samba; analisa a violência como figura na canção Rap do pequeno Príncipe; discute a soberania estética que ressignifica a violência, a partir da vida e obra do cantor de hip hop Sabotage. Com um texto claro e original, estes Escritos tocam em feridas profundas, ao mesmo tempo em que contribuem para uma discussão cada vez mais atual e urgente em nosso país.