O tema da reforma agrária é mais do que espinhoso, muitas vezes impede que uma obra chegue a ser arte, ficando apenas nos estreitos limites do panfleto. Raros são os escritores que, munidos de uma visão política e social intensa, conseguem fundir anseios de uma classe e qualidade estética. Alcy Cheuiche realiza esse feito prodigioso: Ana Sem Terra é a ideologia a serviço da literatura e a literatura a serviço da ideologia, num equilíbrio absoluto entre o homem justo e o escritor consciente. Traçando um corte vertical em trinta anos da história brasileira, este romance perfila conflitos fundiários e a sombra de um país imerso em profundas contradições. Personagens de caráter marcante e épica trajetória povoam suas páginas tão necessárias em nossos dias. Espécie de versão atualizada mais do que digna do clássico Ana Terra, de Érico Veríssimo, Ana Sem Terra é ponto fulminante na obra de Alcy Cheuiche e capítulo dos mais significativos da literatura que hoje se faz no Rio Grande do Sul.