Podemos afirmar que, no século XVI, os projetos de França Equinocial e França Antártica, a fascinação pelo pau-brasil e pelos costumes indígenas, fazem do Brasil o « avesso da Europa ». O Brasil é e tem tudo o que a Europa não é, ou tudo o que ela não tem. Diante dos índios brasileiros levados a Rouen e exibidos na corte como selvagens e exóticos, Montaigne se inspira e escreve uma das páginas mais importantes sobre o homem natural, o ensaio Os canibais, em que questiona o epíteto de « selvagens », dado aos ameríndios, afirmando sua superioridade sobre o europeu, « civilizado ». A partir desses encontros e desencontros entre o « mesmo » e o « outro », estavam lançadas as bases de inúmeras teorias, que tanta repercussão teriam na literatura e em muitos campos do saber. A literatura no encontro com o outro apresenta uma série de artigos, publicados por membros do grupo de pesquisa O passado no presente: releituras da modernidade, bem como por colaboradores estrangeiros e brasileiros, sempre presentes nos encontros do grupo. É fruto de pesquisas pluridisciplinares teoria literária, tradutologia, teatro, cinema, literatura e ciências sociais. O tema predominante é o encontro com o outro, em vários momentos e em várias regiões do planeta. O outro como espelho do mesmo, reflexo, e, ao mesmo tempo, colaborador na construção de identidades. O outro, que pode ser tanto um viajante estrangeiro, como um autor com o olhar agudo e crítico de um Machado de Assis sobre o seu tempo, como um tradutor. Em todos os textos, percebe-se a tentativa de se conhecer o passado para a compreensão do presente. Nesses encontros, desencontros, trocas e diálogos, a literatura vai buscando o seu lugar. Compreendê-lo e pesquisa-lo seria uma das funções dos estudos literários.