Este é um livro raro, que nos arrasta para dentro dos seus círculos através de uma linguagem em tudo plástica, metafórica em seu cerne, erótica em seus impulsos, lírica em seu desígnio. Desses círculos concêntricos brotam olhos, mamilos, o diminuto grão da imagem e as palavras que as sustém. Entra-se nos círculos como quem entra dentro do próprio corpo e recomeça a sentir, a ver, a poder dizer. Há azuis cobiçados, dispostos a incandescer, membranas, cápsulas, mulheres-pássaros, mulheres-casas e curiosas espécies de cadáveres. O olhar se infiltra na pele, os nomes têm peso de carne, a memória tátil expõe a engrenagem de uma língua de nervuras e clareiras no limiar do verbo. A metaforização voluptuosa põe em movimento a terra imóvel contida na epígrafe de Luzia Neto Jorge. O vulcão que cospe anêmonas no primeiro poema figura a cópula entre as coisas da terra e de um mar impossível. No esboço aquoso dos versos sincopados há todo um trabalho finamente escultórico. Sensações (...)