A poesia de Tiago Fabris Rendelli poderia ser como uma fotografia. Um jogo de marcar o papel e os sais pela luz, criando contornos claros pelo que se queima a escuridão. Mas pensando em manejar a Terra Seca, prefiro dizer que é como uma xilogravura. Escavada com esforço na madeira. Recebendo a tinta na superfície para revelar os vincos. Este livro dá-se a ver pelo claro-escuro dos vãos de sua superfície. Se a luz marca o papel fotográfico como um passe de mágica, aqui cada contorno do desenho é escrito pelo corte do ferro sobre a madeira, com o cansaço das mãos e o desgaste da ferramenta. O livro traça um percurso pelas sombras em que as imagens aparecem em relevos e texturas criados através da destruição. As imagens de escombros constroem uma caminhada árdua por montanhas erguidas ao contrário ou mortos sepultados no céu (como os de Paul Celan). A luz aparece apenas para ressaltar a escuridão. [...]