Um personagem para conquistar o nosso imaginário: Se alguém colocasse um gravador na Academia Rio-Grandense de Letras, que abrigou nossa Oficina de Criação Literária durante este ano, iria degravar somente comentários positivos dos alunos escritores (e algumas gostosas gargalhadas) cada vez que um dos contos deste livro era lido pelo autor. E isso sempre me encheu de orgulho. Se personagem literário fosse batizado, eu iria brigar para ser o padrinho do Gaudério Laudelino. Mas que o pai dele é o Roque Palermo, isso eu posso jurar para vocês (ou simplesmente oferecer um fio do meu bigode como testemunha). Cada conto é aqui narrado no linguajar comum do peão de estância, com o sabor antigo de causos, meio verdades, meio mentiras, em volta da roda do chimarrão. Laudelino é o personagem principal, mas não esperem dele nenhuma façanha. Seja na lida do dia a dia, nas bailantas ou em alguma guerra ou revolução, age sempre com as manias, virtudes e defeitos dos nossos gaudérios de todos os tempos. Por isso o autor o desloca de um século para outro sem dar explicações para ninguém. Laudelino conversa muito, trabalha pouco e se diverte como pode. Só tem de seu a companheira Maria, o cavalo Zaino e o cusco Lobo, que, igual ao dono, não é bobo para enfrentar todos os perigos. Gaudério Laudelino é tão autêntico, que não vai tardar a incorporar-se ao imaginário brasileiro do sul. Leitores dignos deste livro é que não faltam entre nós. A verdade é que Roque Palermo, graças ao seu talento e vivência profissional no campo, conseguiu um feito raro nos tempos atuais. Depois de um século do nascimento de Blau Nunes, outro campeiro digno desse nome volta a cavalgar por nossa literatura. Neste caso, um gaúcho bem mais simples, mas tão real como o emblemático personagem de Simões Lopes Neto. - Alcy Cheuiche, Porto Alegre Feira do Livro de 2017