O Governo diz que os juros são mantidos elevados como instrumento de controle da inflação. O que diz disso? É fato que os juros altos reduzem o consumo. Mas, considerando que não há meio de evitar que os custos financeiros sejam incorporados ao produto, os juros altos desestimulam o consumo mas causam uma inflação de custos. Se essa política financeira fosse correta já teria surtido o efeito que preconiza. O que vimos, entretanto, foi que os Bancos foram e continuam sendo os únicos beneficiários da situação, enquanto indivíduos se desesperam e empresas vão à falência. Porque há uma diferença enorme entre os juros que os Bancos cobram em seus empréstimos e o que pagam aos inversores? Não há nenhuma lógica, nenhum princípio de economia ou de direito que justifique a diferença de valor entre o dinheiro do Banco e o dinheiro do investidor; portanto, não há porquê serem remunerados de forma diferenciada. Apenas a ganância dos Bancos, com a proteção do governo, explica essa diferenciação. Esse tema é tratado detalhadamente no livro, e é uma das razões porque chamo os Bancos de "inimigos do povo". No livro você chama a essa diferença entre juros pagos e juros cobrados de "imposto de inflação". Porque? O que caracteriza um imposto é o direito de cobrar e a obrigatoriedade de pagar, e é exatamente isso o que se passa com os juros. O problema maior é que os Bancos se apropriaram dos resultados de um instrumento dito de controle inflacionário. Constituíram-se nos arrecadadores e nos beneficiários desse "imposto". Se, pelo menos, o dinheiro assim arrecadado fosse revertido para o governo, ou se todos os Bancos fossem estatais... Mas, assim não é, e por isso a banca privada cresceu de uma forma que desmoraliza qualquer outra atividade econômica. Mas os Bancos alegam que os juros altos são conseqüência também do "risco". Que diz disso? Essa é uma alegação falaciosa, e há vários fatores que se pode mencionar contra. Um deles, e os Bancos sabem disso, é que os juros altos aumentam as dificuldades do tomador do empréstimo e, portanto, aumentam o risco da transação. Portanto, os Bancos são responsáveis pelo aumento do "risco". Enfim, o "risco" é alto porque os juros são altos; os juros são altos porque o "risco" é alto. Um ciclo vicioso. Em favor do Banco, é claro. A seu ver, que meio teria o governo para controlar a inflação de demanda, se não usasse os juros altos? Poderia, por exemplo, controlar o crédito. Até 20, 25 anos atrás, quando os juros eram baixos, o Banco do Brasil, por delegação do governo da época, fechava o crédito comercial por determinado espaço de tempo. Com essa limitação de crédito limitava-se o consumo e, portanto, controlava-se o ímpeto inflacionário. Raramente eram atingidos os créditos para a indústria e, menos ainda, para a agricultura, de vez que havia o entendimento lógico de que só o aumento de produção podia elevar a oferta ao nível da procura, como verdadeiro elemento controlador da inflação. O governo diz que, dentro de uma economia de mercado, democrática e livre, não pode restringir a atividade nem o lucro dos Bancos. O livre mercado não pode ser invocado discricionariamente. Se não se pode restringir a atividade nem o lucro dos Bancos, também não se pode restringir o acesso de terceiros ao exercício da atividade bancária. E é pública a posição do governo contra o estabelecimento de concorrência aos Bancos. O livre mercado não pode justificar a liberdade incontrolada dos Bancos nem o oligopolismo. Além disso, é função do Estado defender os mais fracos contra o poder dos mais fortes. O livro trata da origem dos Bancos. É curiosa aquela história de que os negócios, no princípio, eram feitos em um banco na via pública, daí o nome Banco... Pois é. Conforme é detalhado no livro, os Bancos surgiram do manuseio de "moedas", atividade que era exercida por indivíduos que, literalmente, sentavam em um banco na via pública, numa feira etc. Que papel os Bancos deveriam ter atualmente? Desde há séculos os governos estimularam a atividade bancária através de concessões exclusivas, mas também impuseram regras. Os Bancos foram então autorizados a captar os recursos do público mas tinham o dever de aplicá-los em atividades de interesse do governo. Isso é o que chamo de origem da atividade bancária enquanto instituição protegida pelo governo. O Banco recebeu uma concessão e uma obrigação paralela. Mas, isso não ocorre também nos dias de hoje? Não. Hoje, os Bancos são Bancos apenas para captar recursos. Afastaram-se cada vez mais da obrigação de aplicar os recursos da sociedade em beneficio da sociedade. Não se sentem obrigados a nada. As tarifas que cobram sobre serviços já lhes garantem um lucro que praticamente os liberam da necessidade de emprestar. Conservaram e ampliaram apenas os direitos e vantagens, constituindo-se em verdadeiros inimigos da nação. Transformaram-se em meros intermediários na vida financeira dos cidadãos, já que o sistema financeiro está instituído de forma a que nada se passe sem a presença de um Banco. E, em tudo, eles ganham comissão. Foi a consciência disso tudo que me levou a escrever o livro. No livro, você compara o poder do saque ao poder do voto. E sugere que o povo use esse instrumento em sua defesa contra a prepotência do Banco. Mas isso só teria efeito se fosse um movimento organizado, não é? Sim. Mas basta um movimento coletivo pequeno, para começar. Ele tem efeito multiplicador, porque é re-alimentado pelo medo dos depositantes. No livro conto a história de um Banco em Nova York que foi objeto de um movimento dessa natureza e capitulou depois de 3 ou 4 dias. Aqui, eu não sei se teria o mesmo efeito: o povo está acostumado a filas e filas, tamanho o desrespeito - à lei, inclusive, que limita o tempo de atendimento nas agências... Sem dúvida teria o mesmo efeito. Como em qualquer país, o povo dominado pelo medo de "quebra" do Banco correria aos guichês para saque. E tem a mídia; basta una notinha num jornal, falando sobre aumento de saque em determinado Banco... Portanto, a arma é poderosa e todos os Bancos a temem. Toda a economia, todas as atividades, produtivas ou não, estão ligadas de maneira simbiótica ao sistema bancário. Dá para viver sem Banco? Não diria que a ligação é simbiótica. Diria que é predatória. Entretanto, o que defendo não é a destruição dos Bancos. O que preconizo é que o Banco retorne à sua origem, no que se refere à aplicação dos recursos do povo no benefício do povo. Também preconizo que o lucro do Banco seja proporcional ao seu capital próprio, que gira em torno de 1% dos seus ativos totais