Nietzsche, em uma célebre carta enviada a Franz Overbeck em julho de 1881, diz encontrar em Spinoza seu único precursor, e que a partir de então sua solidão (Einsamkeit) passava a ser uma dualidão (Zweisamkeit). Tal pequeno texto é o ponto de partida deste livro. Nele, Nietzsche afirma que sua filosofia e a de Spinoza têm a mesma tendência geral: fazer do conhecimento o mais potente dos afetos. E lista em seguida outros cinco pontos de aproximação entre elas: negar o livre-arbítrio, a teleologia e as causas finais, a ordem moral do mundo, o desinteresse e o mal. No início desse mesmo ano, Nietzsche já havia afirmado que o conhecimento da realidade é aquilo que “aumenta a beleza do mundo e torna mais ensolarado tudo o que há” e que por isso “a felicidade suprema consiste no conhecer”, encerrando o aforismo mencionando Spinoza entre aqueles que vivenciaram o conhecimento como um descobrir e inventar. Cada um dos seis pontos de proximidade mencionados na carta é abordado separadamente por um nietzschiano e por um spinoziano, dentre alguns dos mais consagrados especialistas nas filosofias de Spinoza e de Nietzsche do Brasil e da França. A intenção é a de que cada leitor possa chegar a suas próprias conclusões, a partir do cotejamento de um e outro texto sobre cada um dos pontos em questão. Se tanto para Spinoza quanto para Nietzsche o conhecimento é um afeto – e o mais potente dos afetos –, esperamos que este livro possa afetar seu leitor, contribuindo para a vitalidade da pesquisa filosófica atual.