Por aqui começa então a poesia de João Vilhena, esta é a ponta do icebergue que se esteve formando há tantos anos, em tantas cristalizações subterrâneas e invisíveis. E, se não é tarefa fácil para mim a de segurar esta garrafa de champanhe gelada com que o quero brindar, é precisa muita coragem para lançar esse barco num mar cheio de portentos e potenciais titanics. Quem é então este poeta, ou seja, o que nos diz esta poesia? Há, na poesia de João Vilhena, uma oscilação clássica entre duas pulsões: se por um lado o autor é capaz de dotar muitos dos seus poemas de um lirismo bastante erotizante (eros), por outro lado há uma constante observação da morte (thanatos) no decurso da sua escrita: Os mortos quero crer são plantas/em movimento no pátio com o sol/mas quem afinal se move é a terra/o sol vai ficando atrás de nós/mudam as mãos as plantas no pátio de lugar/e surgem flores: a vida toda/condensada em horas/mas que morte será a das plantas/ainda vivas quando se for a mão/que em (...)