O indivíduo moderno vem, aos poucos, se libertando do peso de costumes, crenças e preconceitos. Ele é cada vez mais livre para decidir o seu destino. No entanto, quanto mais independente, mais se sente esmagado pelas conseqüências dos seus atos. A saída adotada para tentar escapar desse paradoxo, segundo Pascal Bruckner, tem sido o individualismo. O autor de “A tentação da inocência” chama de inocência a doença do individualismo que consiste na tentativa de gozar dos benefícios da liberdade sem sofrer nenhum dos seus inconvenientes. Ela desenvolve-se em duas direções: o infantilismo e a vitimização, duas maneiras de fugir da dificuldade de ser. Na primeira, a inocência é considerada paródia da despreocupação e da ignorância da infância, culminando na imagem do eterno imaturo. Na segunda, é sinônimo de angelismo, ou seja, ausência de culpa, incapacidade de cometer o mal.