A peça As Sereias da Rive Gauche conta a história de dois livros polêmicos publicados no ano de 1928: O Poço da Solidão, da inglesa Radclyffe Hall, e Almanaque das Senhoras, da americana Djuna Barnes. Eles tinham em comum o tema principal - o lesbianismo -, e suas autoras, além de homossexuais, freqüentavam os salões literários de Natalie Barney, conhecida como "A Safo de Paris". Localizada no coração da Rive Gauche parisiense, a duas quadras da igreja de St.-Germain-des-Près, sua casa funcionava como ponto de encontro de artistas e diletantes de todo tipo, mas principalmente de artistas lésbicas e bissexuais. Essas moças, de todas as nacionalidades, idades e estilos, sentiam-se acolhidas pela salonniére Natalie Barney, patrocinadora de jovens talentos, lésbica assumida, sem culpas, e que, de maneira pioneira, advogava aquilo que hoje chamamos de "orgulho gay". Natalie Barney, Djuna Barnes e Radclyffe Hall formam o trio que protagoniza As Sereias da Rive Gauche. Além da publicação dos dois livros (que, não por coincidência, tinham Natalie como musa inspiradora), a peça fala sobre o amor e sobre a paixão lésbica, por meio das aventuras e desventuras amorosas das personagens. Deixa em aberto a pergunta: será que as questões relacionadas à homossexualidade mudaram tanto nestes últimos 75 anos? Pesquisando vasto material biográfico e baseando-se nas obras das personagens, a cantora e escritora Vange Leonel procurou fazer uma reconstituição fiel dos acontecimentos do ano de 1928. Desconhecidas do grande público, marginais no movimento modernista e pioneira ao tratar do lesbianismo, apenas recentemente o meio acadêmico começou a interessar-se por essas mulheres. A peça As Sereias da Rive Gauche recupera essas personagens para revelá-las ao público, focando um tema que desperta curiosidade, controvérsia e paixões