Em 20 de março, "os agregados da fazenda do Sr Barão do Piabanha levantaram-se contra o filho deste senhor. O Juiz Municipal de Paraíba informado deste acontecimento mandou até uma pequena força, que conseguiu prender três dos cabeças. Logo depois porém armaram-se os demais sublevados em número de trinta e arrancaram os presos das mãos da Justiça" Esta notícia, publicada no Jornal do Commercio em 1858, é o ponto de partida das reflexões presentes neste livro. Ao desconfiar das interpretações registradas por aquele jornal e pelas visões recorrentes sobre os pobres do campo, Márcia Motta analisa em Nas fronteiras do poder as dimensões do conflito e do direito à terra no Brasil do oitocentos. Com base em um intenso cruzamento de fontes e em constante diálogo com a produção acadêmica sobre a apropriação territorial, Motta recupera as diversas leituras sobre a primeira lei agrária do Império - a Lei de 1850 - Para tanto, a autora investiga os embates que deram origem à lei e as tentativas anteriores de fazer emergir um dispositivo legal que pudesse pôr fim aos conflitos agrários. Ao compreendê-la enquanto espaço de luta, Motta investiga como a lei foi instrumentalizada pelos fazendeiros, além de analisar as razões mais profundas que fizeram emergir a sublevação dos "agregados" do Barão. Foi possível assim demonstrar, inclusive, como a Lei de Terras pôde adquirir outro sentido para aqueles sublevados. Ao destrinchar o emaranhado das leis e as diversas histórias da ocupação do lugar, Motta não apenas revisitou um tema pouco explorado pela história social, como revalorizou a história agrária do Brasil.