ArTorquato expressa bem o que foi o tropicalismo: a dimensão trágica da visão do Brasil e o desencanto com a própria incompletude da obra brasileira. Por mais referência que tivéssemos aos sustentáculos da brasilidade, o outro lado terrível estava lá, como aqui é demonstrado: a tropical melancolia e a dieta da farinha e água. O tropicalismo era isso também: carência e pobreza. Essa peça tem uma coisa fantástica, trata não só do personagem ou da personalidade de Torquato, mas principalmente da poesia - e não só a dele mas a poesia daquela geração, daquele tempo. Uma poesia feita na passagem do modernismo para o pós-modernismo, ou seja, fragmentada, fragmentária. A peça revela e restaura a força poética de Torquato e de seu tempo; restaura a visão com que a poesia apreendia a política, a existência, os movimentos filosóficos de então, a dimensão jornalística, a função hegemoneizante que passou a ter a TV. A importância da peça é sua força de restauro, sua capacidade de condensar uma substância que talvez ficasse dispersa. É o que a peça faz com a teatralidade, a poesia e a tragicidade do personagem Torquato e sua produção.