As culturas juvenis não cabem em pesquisas jornalísticas ou em abordagens generalistas. Fluidas e cambiantes, transbordam pelos poros da metrópole, organismo vivo a respirar no retorcer de um caleidoscópio de multivíduos. Não há como apreendê-las nem rotulá-las. Como encerrar em taxonomias socioantropológicas o que é naturalmente vário, fragmentado, policromo? Como fixar em tabelas o que é móvel e fugidio? Em 'Culturas extremas', Massimo Canevacci reivindica 'uma espontaneidade metodológica polifônica que vai de encontro a todo rigor formal monológico, a toda e qualquer moral holística pensativa, a toda e qualquer implacável estatística'. Na contramão do discurso científico, 'instrumento para obter financiamentos, fazer carreira, falar em nome de', o autor adota a metodologia do 'gozo da diferença'. É isso o que lhe permite freqüentar interzonas urbanas nas quais estabelecem um fluxo comunicacional direto com os sujeitos, jamais objetos. Rave, piercing, techno, tatuagem, bodyscape, cut-up, ciberespaço, fanzine, videoarte - a cultura líquida escorre pelos desvãos da cidade, despercebida entre as grades enferrujadas do método acadêmico centralizado. Em vez de tipologias, o que interessa a Canevacci são 'as zonas limítrofes, os espaços vazios, os desafios panoramáticos, os atravessamentos'.