Carlos.Carlão.Calão.Carlos Alberto.Sanchão.Portuga.Carlos Alberto Sanches.Poucas criaturas conheci com tantos nomes.Como se não bastasse o apelido. Na foto antiga, aos quinze anos, é apenas isso:magro, quase esquelético, muito alto perto dos moleques que formam o time do internato. Cabelos grossos e negros arredondam ainda mais a cabeça que oscila meio marota, meio sádica, no alto do pescoço seco e curvo. Dois olhos acesos, alertas, de quem sobrevoa.O nariz a tudo domina:Calão é chefe de quadrilha, capitão do time, dono da bola e fareja longe quem for de gangue adversária.Aos inimigos, a porrada.O apelido colou irretocável:Urubu.O que era apenas um registro quase perdido da década de 1950, na foto do time que terminou em último lugar no campeonato do colégio Santo Antônio, Blumenau, agora revive em forma de literatura, neste belo mosaico que oferece a mesma mutabilidade plurifacetada do autor:o pai, a mãe, o caçula, a caçula, o primogênito, a avó, o tio.Uma investigação em espiral que conjulga com maestria a forma literária e a matéria tratada.Possibilidades que não caberiam num único nome, como acontece com seu autor Carlão.Calão.Carlos Alberto.Carlos Sanches.Sanchão.Portuga.Carlos Alberto Sanches.Urubu.