Seguindo a reedição da obra completa de Clarice Lispector em novo projeto gráfico, a coletânea infantojuvenil Como nasceram as estrelas ganha novo visual com as divertidas ilustrações aquareladas da artista plástica Flor Opazo. Para cada mês do ano, Clarice revela uma lenda ou conto que retrata cenários e tradições característicos da cultura brasileira. A história que dá nome ao título do livro, Como nasceram as estrelas, conta como, em uma aldeia, travessos curumins deram origem a "gordas estrelas brilhantes". Com uma linguagem toda especial, a autora dialoga com o pequeno leitor de igual para igual, voltando a ser uma criança cheia de sonhos, mas também de molecagens e manhas, deixando claro que criança que não "apronta" não vive bem a infância. Entre índios e diversos personagens do folclore nacional, como a sereia Yara, o Curupira e o Saci-Pererê, as fábulas trazem sempre um aprendizado no final. Em uma delas, Clarice alerta que nem sempre as histórias terminam com um final feliz: "Será que a moral desta história é que o bem sempre vence? Bom, nós todos sabemos que nem sempre. Mas o melhor é a gente ir-se arranjando como pode e dar um jeito de ser bom e ficar com a consciência calminha. "Este é um livro de lendas; a estória que dá título, como todas as outras, fala de personagens do folclore brasileiro. Curupira, Saci-Pererê, índios... Mas o mais bonito neste livro - e nos outros quatro infantis da autora - é o estilo muito especial de Clarice para se comunicar com as crianças. Ela dialoga com seu pequeno leitor de igual para igual, só que, nesse caso, é a autora que diminui sua idade e volta a ser criança. Por sorte, uma criança cheia de sonhos, que dá valor ao maravilhoso espetáculo de vaga-lumes em céu escuro, que sugere não haver coisa melhor nesse mundo do que "comer batata-doce com café tinindo de quente" em festa de São João, mas que também assume seu lado Saci-Pererê, de molecagens e manhas. Para deixar claro que criança que não "apronta" não vive bem a infância.