O romance 'A ópera maldita', do italiano Andrea Camilleri, não é apenas mais um lançamento assinado pelo homem que criou o famoso comissário de polícia Salvo Montalbano e se tornou responsável por diversos best sellers em todo o mundo. O livro foi aclamado como a sua obra-prima e elevou o autor ao patamar dos grandes literatas de seu país. Através de um texto riquíssimo, Camilleri narra uma fábula política tingida por tons farsescos em que o representante do Estado decide apresentar a ópera Il birraio di Preston, de Luigi Ricci, na noite de inauguração do teatro de uma pequena cidade. Enxergando essa escolha como uma imposição, os habitantes se revoltam e dão origem a atos de vandalismo que acabam por transformar a história do povoado. Camilleri ambienta a trama (assim como a maior parte de seus trabalhos) na cidade fictícia de Vigàta - que representa a terra natal do autor, Porto Empedocle. "Vigàta é uma cidade imaginária, de fronteiras variáveis e extensas que compreendem toda a Sicília", diz o escritor. A característica mais marcante do romance está, entretanto, na linguagem. Com sua tradicional ironia, Camilleri brinca com os diferentes dialetos italianos (o romano, o milanês, o piamontês, o toscano) e chega a dar à luz uma espécie de língua particular. Com isso, cada personagem do livro pode ser reconhecido através de uma peculiar maneira de se expressar. A situação cultural, o nível social e as características psicológicas de cada um - dos mafiosos aos homens do governo, passando por artistas e operários - podem ser notados através dos diálogos.