Animal olhar vem mostrar a poesia de Ramos Rosa, premiadíssimo autor português, que insere o homem no seio do mundo, poética operada pela palavra: geradora, rito de passagem e circulação entre eles. A palavra gera, na medida em que cria o mundo dos possíveis e é operadora da transformação do possível em real. Em sua poesia, cada coisa pode ser tudo e nada, o que nos leva à polissemia infinita da palavra. A obra de Ramos Rosa pode ser vista como metapoética, em que a interrogação sobre o poema acrescenta ao ser o não saber de si e o amor da busca para pertencer ao mundo, que é também o mundo das palavras. Ele a correlaciona com a metafísica, na medida em que esta é a reflexão do poeta sobre a percepção do mundo. Mas, de fato, esta reflexão é apenas a luz que as coisas lhe devolvem em forma de palavras. "Escrevo para ser contemporâneo das nuvens / para pertencer à nua e pobre pátria inerte", diz ele.