Nos contos de Paul Bowles reunidos em Chá nas montanhas as descrições do ambiente natural possuem um peso incomum e produzem crescente tensão no leitor. Prevalecem os abismos, os penhascos, os desertos, e animais, como aranhas, caranguejos, serpentes, que incorporam metáforas de nosso mundo interior quando desprovido das frágeis defesas da civilidade. Suas histórias se passam em ambientes que tampouco se subordinam às referências européias: o interior do México, onde viveu algum tempo, o norte da África, onde passou boa parte da vida. O contato com o folclore, as lendas e narrativas populares dessas regiões deve ter despertado sua curiosidade para possibilidades literárias de grande impacto, que revelam, através da simplicidade de linguagem, alguém à margem de nossos parâmetros culturais, mas implicitamente presente nas entrelinhas sombrias dos contos, como que protagonizando o choque surdo entre diferentes civilizações.