Por mais que tenha passado por modificações, a família continua sendo um espaço afetivo indispensável para nossa realização. Mesmo com tanto sofrimento em seu seio, na família projetamos nossas expectativas de felicidade. Permanece, por isso, terreno fértil para a literatura, tal como vemos neste inovador romance de Jorge Reis-Sá, jovem autor português que se destaca pela autenticidade de linguagem e enredo. O personagem principal deste livro é uma casa posta entre o campo e a cidade - com quintais povoados por galinhas, mas se comunicando com uma vida cosmopolita. Nesta casa fronteiriça de uma família operária - o pai é torneiro e a mãe, atendente de um posto de saúde - é lançada uma nova partida pelos filhos homens que seguem caminhos diferentes. Para ultrapassar o lar e a formação dos pais, eles vão à cidade em busca de estudo. O mais velho, no entanto, abandona o curso universitário para ser escritor, fazendo da casa paterna um refúgio e um pequeno reino, cativando todos os seus. Enquanto o mais novo, sempre preterido nos afetos, segue uma carreira séria, que lhe permite criar a própria família, embora continue e continuará, por um episódio anunciado só no final, à sombra do irmão que logo morre, ocupando a casa inteira.