Sobre o golpe de 1973, Ruy Mauro Marini indica que diante do fracasso de suas aspirações eleitorais, as classes dominantes reviram sua estratégia para enfrentar o movimento popular e promover a derrocada do governo. Esta ofensiva, de corte abertamente fascista, não poderia contudo ser dissociada das estratégias perpetradas pela própria esquerda chilena que se dividira entre uma estratégia reformista e uma estratégia revolucionária. Nesta última, o governo da Unidade Popular não poderia ser considerado como etapa prévia ao processo revolucionário, mas como parte de um mesmo processo, a ser continuadamente radicalizado pelos setores cuja consciência permitisse cumprir o papel de vanguarda na luta de classes. Marini, em O reformismo e a contrarrevolução, analisa o caráter burguês do Estado capitalista e as particularidades do Estado capitalista dependente. Dedica-se, portanto, à problemática da tomada e manutenção do poder pela classe trabalhadora. Partindo de uma interpretação marxista sobre a dependência em Nuestra América, Marini se debruça sobre a unidade entre o fascismo e o combate ao reformismo, em meio a uma ofensiva contrarrevolucionária. Com atualidade impressionante, os artigos aqui recolhidos apontam os limites das políticas de conciliação de classes para a conquista e conservação do poder. Sua tradução ao português é salutar e vem em boa hora: Ruy Mauro Marini, brasileiro, escreveu no exílio. Grande parte de sua obra é ainda desconhecida do público em nosso país. O reformismo e a contrarrevolução deve ser lido por todas, todos e todes que se preocupam com as contradições do reformismo e do desenvolvimentismo para a construção de uma estratégia socialista de superação do capitalismo. (Marina Machado Gouvêa)