Um livro de memórias, sobre aprendizagens do autor enquanto escritor e leitor e uma obra sobre o exercício da criação literária. Essas são as definições de Affonso Romano de Sant’Anna sobre Entre leitor e autor. A Editora Rocco decidiu ampliar o texto de Sedução da palavra (Editora Letraviva, 2000) em novas crônicas que fizeram surgir o novo livro. Nos textos, Affonso Romano de Sant’Anna fala do lugar do poeta, do teórico, do cronista, do jovem escritor, do professor que é e foi. A posição de leitor e autor é simbiótica e torna as crônicas ainda mais prazerosas de serem lidas. Episódios com Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Octavio Paz, Michel Foucault, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Elizabeth Bishop e muitos outros são deliciosamente narrados nas crônicas que deixam transbordar a inquietude, a timidez e admiração do Affonso jovem leitor e escritor iniciante. Imagine o que era para um jovem do interior e pretenso poeta já ter se encontrado, por volta dos 17 anos, com Carlos Drummond de Andrade, poder dizer-lhe da admiração, ouvir as orientações, mostrar seus textos e ficar, mesmo ainda depois dos encontros, ainda sem saber onde enfiar as mãos (da escrita) ao encontrá-lo no elevador? A mim parecia que o prédio do MEC tinha ficado da altura do Empire State Building, em Nova York. O escritor aspirante pode desejar ser um leitor ávido de Entre leitor e autor e ali vai encontrar muitos caminhos e sugestões, mas é preciso encará-lo com a mesma franqueza com que foi escrito. Na crônica Os Riscos do Métier, por exemplo, o autor é taxativo: A literatura é um sistema. Sistema com regras e leis e, como consequência, um sistema com punições e gratificações. Ou A arte não tolera mentira. E ainda O artista se empenha por adquirir sua linguagem e deve continuar a lutar para que ela não se transforme num recurso automático de expressão. Caso contrário, o artista será o imitador de si mesmo e, nesse caso, ele deixa de ser um criador. Em Onde a Porca Torce o Rabo, descreve alguns aspirantes: Pensam que escrevem, mas estão sendo escritos por uma linguagem que já existe. Ainda que críticas, as crônicas não devem esmorecer aqueles que pretendem investir na escrita. Até porque, o escritor apresenta a mesma sinceridade para dividir as inseguranças e inquietudes que perpassam o autor, revelando o seu lado leitor e fã sob várias nuances e em vários encontros. E com a medida que também é leitor, sabe a hora de interromper e prosseguir, pois aborrecer seu público é um risco que sobretudo o cronista deve evitar.Um livro de memórias e uma obra sobre leitura e o exercício da criação literária. Nas saborosas crônicas que compõem "Entre leitor e autor", o poeta, cronista, ensaísta, escritor e professor Affonso Romano de Sant’Anna revê seu percurso enquanto leitor e escritor desde a juventude e relembra episódios com autores como Manuel Bandeira, Octavio Paz, Michel Foucault, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Elizabeth Bishop, entre outros. Um livro imperdível para aspirantes a escritor - que encontrarão muitas sugestões francas e reflexões necessárias sobre a relação simbiótica entre leitura e escrita e as inquietudes do ofício -, mas também para fãs de crônicas, livros de memórias e todos que queiram conhecer melhor o pensamento e as histórias de um dos mais prolíficos autores brasileiros da atualidade.