Começo a apresentação de "As histórias de todas e de cada uma: construindo um trajeto para a educação especial" com a epígrafe extraída de O narrador, em que Walter Benjamin nos coloca como questão a escassez das ações da experiência na sociedade moderna. Ele nos fala de como as pessoas estão cada vez mais pobres em experiência comunicável, sintoma das características de um mundo "que expulsa gradualmente a narrativa da esfera do discurso vivo" (BENJAMIN, 1994, p. 201); sintoma das transformações ocorridas não apenas no mundo físico, mas também no mundo ético, cada vez mais prenhe de experiências desmoralizadas, como aquelas produzidas pelos horrores das guerras, pelas questões econômicas, políticas e sociais. Os trabalhos aqui trazidos parecem propor um percurso que vai na contramão da escassez da experiência de que fala Benjamin, trazendo sob diferentes preocupações as histórias de vida de professoras, reunidas sob a temática da deficiência. Estas preocupações se voltam para temas como: a compreensão da deficiência, noções de inclusão, as motivações para o trabalho, as práticas docentes, a formação, a questão identitária, os saberes docentes, a pesquisa-formação etc. Todos, temas urgentes e atuais na vida profissional do professor. Seria este um modo de escovar a história a contrapelo, como propõe Benjamin? Ou seja, um modo de cavar, num mundo cada vez mais veloz e ávido por informações ligeiras, um espaço para a experiência formativa?