A escrita é forte e lírica. O cotidiano, sórdido. A loucura está por perto. E a personagem ronda o abismo, buscando o equilíbrio capenga entre o tudo e o nada. Quem sabe nunca mais. Nunca mais ser. Nunca mais acordar. Nunca mais enxergar a realidade mesquinha. Quase podre. Pessoas que não ardem, emoções que não queimam, acidez que não fere. E a vida que apesar de tudo renasce na estranha capacidade que ainda se tem de sonhar. O livro de estréia de Maira Parula é para quem tem coragem de ser visceral, aceita as regras do jogo mesmo ignorando-as, não teme a febre, a sinceridade desbragada, e se lança no vazio sem susto, sem meias medidas. Com a alma pronta para o corte. Que está ali, em cada página, em cada chama, em cada palavra que machuca, mas cura. Ainda que seja no absoluto do susto.