*** A literatura de Tiago Donoso vem a público em um dos períodos mais conturbados da história do Brasil contemporâneo: de um lado, a democracia golpeada; de outro, a ascensão do fascismo. Entretanto, em tempos de obscuridade, a arte parece ser sua maior beneficiária. É que a criação, como forma de vida, necessita do escuro para encontrar o caminho da luz. Neste livro, que o autor classifica como \u201cquase romance\u201d, o leitor se verá diante de \u201ceventos\u201d que são, tenho a impressão, imagens entre o claro-escuro de um acender e apagar de luzes; pontos luminosos de um estado de semidelírio. Mas, quem é que poderia vagar, sem rumo, vendo imagens pela brecha do tempo? E que nos abandona logo em seguida, deixando-nos novamente na escuridão total? Não é, não pode ser um homem. Arrisco um palpite: seu narrador é o Brasil. Não o Brasil ideal, o da abolição didática e do positivismo de bandeira.