O discurso que apresenta o direito como um instrumento de emancipação me soa falso, visto como faço profissão de fé na convicção de que os ganhos sociais emancipatórios somente são obtidos por via do empate político, apenas cabendo ao direito institucionalizar formalmente o que foi conquistado, em termos de poder, pela sociedade. Isso foi dito por Bobbio de modo insuperável: só o poder cria direito, mas por igual só o direito limita o poder. Tenho consciência, entretanto, de que este meu posicionamento não coloca o pão na mesa de ninguém. E se não podemos vier de filosofia, sei que bem mais útil que o inútil que sou são os muitos cientistas do direito que fornecem os instrumentos indispensáveis para os operadores jurídicos, obrigados a prestar contas a seus clientes e aos estamentos que os obrigam. Daí o inestimável valor de obras como a oferecida, agora, ao público dos profissionais de direito, por Alexandre Freitas Câmara. E é nessa dimensão que Alexandre Freitas Câmara, sem favor um dos mais brilhantes processualistas da nova geração, escreveu o seu novo livro, precioso para quantos atuarem no espaço dos Juizados Especiais. Espero que persevere distribuindo generosa e proficuamente o seu saber, sempre fiel ao compromisso de fazer bem o direito possível. Do prefácio de José Joaquim Calmon de Passos