De todos os livros escritos por Fernando Bonassi, O Pequeno Fascista é o que melhor resume sua vocação polêmica. Um panfleto contra os que insistem em mitificar a pureza da infância, conta a vida de um menino - da barriga materna até se tornar líder da turma - segundo a ótica de um ser político. Em diálogo aberto com o dramaturgo Bertolt Brecht, a história opera pelo avesso: o protagonista só dá maus exemplos, é cheio de preconceitos, inclusive raciais, e sentimentos mesquinhos. Longe de qualquer determinismo biológico, o autor optou por debitar a índole perversa de seu áspero personagem na conta do aprendizado social de um menino sem nome, sem recursos e de uma fome crônica. Das reações iniciais tidas como egoístas, passamos então a identificar os traços de um adolescente autoritário. O jovem ilustrador Daniel Bueno, em perfeita sintonia com o texto captou com precisão o espaço urbano hostil, árido e vigiado onde crescem milhares de adolescentes na periferia do mundo. Por tudo isso, O Pequeno Fascista é um livro para todas as idades.